sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Cartago, a Grande

A data tradicionalmente aceita para a fundação de Cartago é 814 a.C. Era uma das mais importantes colônias dos Fenícios. A partir do século VIII, Cartago substituiu Tiro na organização do tráfego marítimo e no estabelecimento de pontos comerciais estratégicos no Ocidente.




Exercia assim um domínio sobre o mar Mediterrâneo e geria o antigo império colonial de Tiro como verdadeira potência militar. Saliente-se a importância dos navegadores fenícios, cujos vestígios encontrados precisamente em Cartago datam de cerca de 730 a.C..

Administrativamente, encontrava-se organizada por um tipo de governo estabelecido em dois sufetes, por um Conselho de Anciãos e por uma Assembleia do Povo. Possuía todas as condições para se tornar numa grande potência. A sua política internacional foi marcada pela luta levada a cabo relativamente à posse das ilhas da Sardenha e da Sicília.

Através de uma excelente política comercial e de conquista, conseguiu aumentar o número de colónias e, depois de ter alcançado um grande poder, deu início a uma guerra entre gregos e cartagineses na Sicília, no ano 550 a. C. O exército púnico enviado por Malco conseguira dominar a maior parte da ilha, derrotando os gregos em Alália (Aléria, Córsega), em 535 a. C., mas, simultaneamente, os cartagineses perdiam as suas posições na Gália meridional. Malco tentou a conquista de Sardenha, tendo saído derrotado, o que motivou o seu desterro por deliberação do Senado. Não contente com a decisão sublevou-se, matou o seu próprio filho Carthalo, tornou-se governador da cidade e condenou à morte os membros do Senado que votaram o seu desterro. A sua intenção era seguir uma política de ditadura pessoal, mas perdeu a vida numa sedição.

Mágon sucedeu a Malco e da sua acção contam-se as conquistas da Sardenha e das ilhas Baleares. Foi neste período que Cartago atingiu o seu apogeu com a colonização da costa setentrional de África, fundando pontos comerciais estratégicos. Deste período são conhecidos testemunhos da prática de transacções comerciais com Cartago no litoral de Portugal, na Gália e nas ilhas Britânicas. Magón morreu no ano 500 a. C. e quem passou a ocupar o trono foi Asdrúbal. Este resistiu a Cambises, rei da Pérsia, que pretendia anexar Cartago. Um factor que esteve a favor dos Cartagineses foi o facto de a frota persa ser tripulada por fenícios, que se recusaram assim a atacar.

Asdrúbal morreu em 485 a. C. e Amílcar, seu sucessor, acabaria por reconhecer a soberania nominal do rei da Pérsia e, com o objectivo de não ser importunado pelos helenos, organizou uma grande expedição para expulsar os gregos da Sicília, o grande celeiro daquele tempo. Este acto foi uma prova do poderio militar de Cartago baseado numa frota bem apetrechada e num elevado número de soldados. No entanto, quando tentava tomar Himera, em 480 a. C., foi derrotado por Gelon, rei de Siracusa, que fez numerosos prisioneiros entre os cartagineses. Seguiu-se um período de paz que durou setenta anos, durante os quais Cartago pôde reorganizar as suas forças e desenvolver-se economicamente. Estabeleceram também alguns tratados, nomeadamente com os Romanos. Com estes assinaram um acordo em 509 a. C., segundo o qual era outorgado o respeito mútuo do espaço territorial e do tráfico comercial, comprometendo-se ambos igualmente a não atacar territórios de parte a parte. Neste acordo estava implícita a intenção de Roma em fechar o acesso dos Cartagineses a Itália.

Os atenienses pediram auxílio a Cartago após 414 a. C. para tomarem a Sicília, mas logo em 410 a. C. os cartagineses decidiram-se pela desforra da sua derrota em Himera e iniciaram uma guerra que acabaria por durar um século. Siracusa vivia um clima de anarquia e as cidades de Himera e Agrigento transformaram-se num amontoado de ruínas. Timoleão fez frente aos cartagineses e venceu-os em Cramisa, em 339 a. C., reduzindo-os às suas antigas possessões.
Quando os cartagineses já tinham em seu poder quase todo o território siciliano, Agátocles atacou o Norte de África, isolando Cartago. Só com a morte de Agátocles (288 a. C.), Cartago voltou a recuperar o anterior poder que detinha na Sicília, benificiando das dissensões internas da Grécia.

Cartago iria estabelecer uma aliança com Roma em 290 a. C. na sequência da ameaça de invasão da Itália meridional por parte de Pirro, rei do Épiro. A Sicília caiu nas mãos de Pirro e dasapossou Cartago de todas as suas colónias na ilha. Por isso, esta propôs a paz, reconhecendo a soberania de Pirro em todos os territórios conquistados. No entanto, o objectivo de Pirro era invadir África e tomar Cartago, mas acabou por não concretizar a sua intenção retirando-se para a Sicília.
A Sicília desde sempre foi um território muito cobiçado e tornou-se no motivo principal da série de conflitos que tiveram lugar a partir de 264 a. C. Tendo como campo de batalha a Sícilia, iniciou-se um período de guerras entre romanos e cartagineses que ficaria conhecidas por Guerras Púnicas. A primeira Guerra Púnica vai de 264 a 241 a. C. De forma a fazer frente aos cartagineses, os romanos tiveram de se transformar numa potência naval e apoderaram-se de Agrigento em 262 a. C., cujo resultado foi a obtenção de uma vitória naval contra os cartagineses.
Sob o cartaginês Amílcar Barca a vitória permaneceu indecisa na Sicília. Os romanos acabaram por consquistar a ilha e os cartagineses viram-se obrigados a assinar um tratado, através do qual concediam a Sardenha aos romanos (237 a. C). Com este acto punha-se fim à primeira Guerra Púnica. Seguidamente ocorreu uma sublevação dos mercenários ao serviço de Cartago, facto que levou o Senado a procurar ajuda junto de Amílcar Barca, que submeteria os númidas e os mauritanos e passaria a fazer campanhas na Hispânia durante alguns anos. Sucedeu-lhe Asdrúbal, que concretizou os planos de Amílcar Barca ao conquistar a Hispânia até ao Ebro, estabelecendo um tratado com Roma, de posse da Gália, no qual se comprometia a não prosseguir com as conquistas para lá do Ebro.

O sucessor de Asdrúbal foi Aníbal, filho de Amílcar Barca, que vai assumir especial protagonismo durante a segunda Guerra Púnica, iniciada em 218 a. C. e que durará até 202 a. C. O desencadear desta guerra deveu-se ao ataque a Sagunto (229 a. C.), cidade aliada de Roma na Península Ibérica, de maneira a retirar alguma compensação da derrota na primeira guerra. Aníbal, à frente de um numeroso exército (onde se destacavam os elefantes) passou para além do Ébro, dos Pirenéus, do Ródano e dos Alpes para fazer frente a Roma, que derrotou em quatro batalhas: Tesino, Trebia, Trasimeno e Canas (216 a. C.). Permaneceu em Itália durante quinze anos com o objectivo de conquistar Roma. Só com a acção levada a cabo por Públio Cornélio Cipião, o Africano, que se reflecte numa luta persistente na Hispânia, chegando depois aos muros de Cartago com um poderoso contingente militar, Aníbal abandonaria os seus postos em Itália regressando a África. Os cartagineses acabariam por ser derrotados por Cipião na batalha de Zama (202 a. C.) e foram obrigados a entregar as suas possessões na Europa, a pagar um pesado tributo e a não fazer qualquer guerra sem antes darem conhecimento ao Senado romano. Nomeado sufete, Aníbal dedicou-se a reparar os danos da guerra e, devido ao seu génio no empreendimento de reformas administrativas, Cartago depressa recuperaria o seu estatuto de potência comercial.

Temendo o poder de Aníbal, os romanos pediram a sua reclusão em Roma, mas este conseguiu escapar, refugiando-se em 195 a. C. na corte de Antíoco III, rei da Síria.

Devido ao tratado assinado com Roma, Cartago não estava autorizada a fazer qualquer guerra e por isso não poderia defender os seus territórios da conquista que o rei númida Massinisa levava a bom termo, contando com o apoio dos romanos e chegando a anexar uma parte do território cartaginês. Cansados das respostas evasivas dos romanos, os cartagineses, sob o comando de Cartalo e Asdrúbal, decidiram encetar uma nova guerra contra Massinisa pelos seus territórios, mas foram derrotados na batalha de Oróscopo. Roma intervém, dando assim início à terceira Guerra Púnica (150 a. C.), alegando o rompimento do acordo estabelecido por parte de Cartago. Foi enviado para África um exército e, simultaneamente, uma embaixada cartaginesa chega a Roma com a informação de que os chefes da revolta foram desterrados e que o povo cartaginês se colocava sob a vontade romana. Roma fez então exigências extremamente pesadas o que provocou a união do povo e a rebelião contra o poder romano, usando como instrumento o exército de Asdrúbal que entretanto havia sido reabilitado. Derrotaram os dois cônsules romanos, Manlio e Censorino, que levavam ordens para assediar Cartago. Em 148 a. C., o exército romano encontrava-se sob o comando de Calpúrnio Pisão e Lúcio Mancino, mas foram igualmente derrotados. Como os desastres se somavam do lado dos romanos, o Senado decidiu enviar Cipião Emiliano para reorganizar o exército, enquanto Mancino conseguia atacar uma importante posição junto ao pomoerium, o qual foi imediatamente auxiliado por Cipião, e sitiam a cidade de Megara. Os sitiados conseguiram resistir ainda durante algum tempo e durante o Inverno Cipião atacou Neferis e seguidamente Byrsa, derrotando os cartagineses. Cartago acabava por cair nas mãos dos romanos, tendo sido totalmente destruída a mando do Senado em 146 a. C. Falar em destruição é amenizar o que verdadeiramente sucedeu: arrasaram-se pura e simplesmente todas as estruturas materiais da cidade, pondo-se sal e cal para esterilizar a terra e impedir que ali renascesse algo. Cartago foi convertida então numa província romana.

A Área de Cartago faz parte da lista do Património Mundial da UNESCO desde 1979.


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► A queda de Cartago

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