sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A estreita ponte entre Brasil e Gana

Nossa história com Gana remonta a um período doloroso para muitos de nós. Digo isso, porque há pouco mais de quatro séculos milhares de africanos de várias regiões do continente foram tirados de suas terras e levados forçadamente para as Américas na condição de escravos.


Comunidade de pescadores de James Town, em Acra, capital de Gana.

Milhares desses homens, mulheres e crianças que resistiram tornaram-se nossos ancestrais e formaram o Brasil que temos hoje. Milhares desses homens e mulheres saíram em navios ancorados na margem do que hoje é o território ganense do Atlântico.

A ponte sobre o oceano Atlântico entre Brasil e Gana não se rompeu, mesmo com o fim do tráfico de cativos. Engana-se quem imagina um ganense rancoroso desse passado. Os laços que uniram nosso país a Gana está no nosso sangue, na nossa cultura e no imaginário dos que hoje vivem na outra margem do Atlântico e têm uma história incrível para contar.

A comunidade TABOM, formada por afro-brasileiros que retornaram ao território ganense desde as primeiras décadas do século XIX, luta para fortalecer os laços entre brasileiros e ganenses. Como a maior parte da história recente africana, essa também tem poucos registros, não despertou interesse à minoria que manteve um regime imperialista na África. Mas os afro-brasileiros retornados à Gana a partir do século XIX não deixaram esta história ser esquecida.


Rua Brazil Lane, onde fica a Casa do Brasil, em Acra, capital de Gana.

O nome TABOM é curioso. Segundo a tradição dos retornados quando os afro-brasileiros voltaram ao atual território ganense, antiga Costa do Ouro, eles não dominavam as línguas locais e apenas respondiam, ao ser inquiridos: “Tá bom!”

Assim, o nosso “tá bom”, ‘está tudo certo’, serviu para denominar o grupo de brasileiros de origem africana retornados ao território ganense. Na memória dos retornados ficou também o carinho e a curiosidade sobre uma terra distante, o Brasil, mas ainda muito perto dos corações. Ser ‘Tabom’ em Gana é ser feliz. Nós, brasileiros, somos bem recebidos pelos Tabom, como se encontrássemos parentes que há muito não tínhamos notícias.

Na Casa do Brasil, localizada na capital Acra, são ministradas aulas de português duas vezes por semana. Pelo vilarejo de James Town representantes da sexta e sétima geração de retornados falam de um Brasil que sonharam ou sonham em conhecer. A diplomacia brasileira tem suportado iniciativas de troca cultural entre as duas nações.

No século XXI, brasileiros cruzam o Atlântico de olho no potencial de Gana. O país foi um dos primeiros a conquistar a independênia em 1957. Saiu na frente com estabilidade política e econômica, mas ainda batalha para crescer por meio de sua própria riqueza. Potencial não falta. As condições climáticas fazem de Gana um país bastante adequado para a produção de arroz. De olho nisso, gaúchos estão colhendo este ano, com sucesso, a primeira safra.


Pequenos produtores de arroz em final de colheita, interior de Gana.

O Brasil, através de iniciativas como a Embrapa África, sediada em Gana, tenta inaugurar uma nova forma de cooperação com o continente. A cooperação que consiste, de fato, em troca de conhecimento, visando o crescimento mútuo, digno de duas regiões do mundo em desenvolvimento.

Os produtores locais de arroz ainda saem em desvantagem, precisam de assistência técnica e financeira para competir com os brasileiros, com os estrangeiros que estão de olho na África. Os ganenses precisam de suporte para gerar a renda necessária a uma vida digna. O governo ganense ainda precisa fazer muito por eles.

Brasileiros partindo para Gana e ganenses chegando ao Brasil em busca de aprendizado. Eles vêm enxergando no país-irmão o exemplo e a possibilidade de se superarem. E nós, devemos dar as boas-vindas.

.:: TV Brasil

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