Os berberes (que chamam a si próprios Imazighen, ou seja, "homens livres", singular Amazigh) são um conjunto de povos do Norte de África que falam línguas berberes, da família de línguas afro-asiáticas.
Estima-se que existam entre 38 e 45 milhões de pessoas que falam estas línguas, principalmente em Marrocos e Argélia, mas também fazendo parte deste grupo os tuaregues, predominantemente nómades do Sahara.
A palavra berbere, emprestado pelo português do árabe, e por esse último do latim, perdeu muito cedo de seu sentido primeiro de "estrangeiro à civilização greco-romana". Ela designa hoje um grupo lingüístico norte-africano: os falantes do berbere, conjunto de tribos que falavam ou falam o ainda dialetos com base comum, a "língua" berbere. No uso corrente, que segue a tradição árabe, chama-se berbere o conjunto de populações do Magrebe. No entanto, o uso se tornou errôneo, já que fala de raça berbere. Na verdade não existe uma raça berbere, os falantes do berbere apresentam etnias bem diversas. A observação mais superficial permite diferenciar um kabyle, um mzabita e um targui.
As primeiras influências historicamente atestadas foram as dos fenícios e por intermédio desses, os gregos: elas não parecem ter marcado profundamente os berberes. A longa dominação romana, e depois a bizantina não foram muito mais eficazes. Elas nunca conseguiram dominar completamente todas as populações berberes e as tribos submissas se rebelavam freqüentemente.
A civilização romana assimilou e cristianizou uma parcela ínfima dos magrebinos: mesmo os convertidos recorriam aos cismas para afirmar a sua independência. A língua berbere representa, na África do Norte e até no Saara, a única ligação de uma comunidade de dezenas de milhões de pessoas. Porém é uma comunidade que não se comunica, pois os grupos estão dispersos em imensos territórios. Sempre minoritária, a língua berbere não é considerada oficial em nenhum Estado. Apesar de algumas tentativas limitadas, nunca atingiu o status de língua escrita.
Civilização berbere e o mundo muçulmano
A conquista árabe e a conversão dos berberes ao islamismo determinaram duramente seu destino histórico. Essa conversão se estabeleceu completamente somente no século XII. O espírito de independência e a tendência ao puritanismo cultural geralmente reconhecidos nos berberes explicam por que eles foram contra a dominação árabe e a ortodoxia islâmica, mas isso não impediu a islamização e nem a arabização desses povos.
A primeira classificação das tribos berberes, válida para a segunda metade do século XIV, foi fornecida pelo historiador árabe Ibn Khaldun. A leste se situavam os Lowata de Cyrénaïque, de Tripolitaine, do Djérid e da Aurès, a oeste, os Branès e os Zenata. Estes últimos, grandes nômades conquistadores que chegaram na África do Norte no fim do período bizantino, foram os primeiros a serem arabizados. Os Branès, aqueles que se designavam Imazighen (homens livres), seriam os berberes mais antigos. Dentre eles estavam os Masmouda, sedentários do Médio e Grande Atlas, e os Sanhaja (Iznagan), divididos em sedentários (Qotama da Kabilia, Ghomara do Rif) e grandes nômades do Saara Ocidental (Lemta, Lemtouna, Gouzoula).
Essa situação e essa nomenclatura não duraria por muito tempo. A imigração árabe e as invasões hilalianas reforçaram, ao menos nas regiões abertas, a arabização das tribos berberes cuja maioria renunciaria a seu nome antigo para se juntar a um clã árabe com mais prestígio. Outras tribos, no entanto, geralmente que habitavam as montanhas, como as tribos da Aurès e da Grande Kabilia, do Rif e do Atlas, apesar de serem muçulmanos e várias vezes reislamizados pelos marabutos, conservavam sua língua e seus costumes.
É sobretudo na observação desses costumes que foi revelada a originalidade berbere. Esta se manifesta essencialmente pela existência de um direito costumeiro e de uma organização judiciária não atreladas à religião. As duas características desse direito berbere eram a promessa coletiva como prova e a utilização de regras e de penalidades conhecidas sob o nome de Iqanun.
Quanto à justiça, ela era julgada pelos juízes-árbitros e pelas assembléias das vilas. No entanto o costume berbere não era um direito completamente laico e não entrava em conflito com as leis religiosas. A organização social era regida pelos laços de sangue, reais ou fictícios, pela prática de trabalhos coletivos, e pelo uso de celeiros coletivos; o que se encontra tanto entre os berberes quanto entre os árabes.
Politicamente os berberes são formados pelas várias uniões dos Estados independentes (reinos de Tahert, de Tlemcen, reino de Kairouan, reino de Fés...), e de grandes impérios, como o almorávida e o almóada. Eles possuem vários tipos de organização: aristocrática, teocrática,monárquica, além da democrática dos jama'a'qui (na verdade, segundo alguns autores, as assembléias designadas pelos clãs representavam na realidade uma oligarquia dos antigos, governando ao nome da tradição).
Apesar de que possa se falar de uma civilização berbere, esta parece pouco original. A parca literatura berbere, puramente oral, consiste em fábulas orais, contos e cantos tradicionais ou improvisados; ela é feita sobretudo de empréstimos do Oriente árabe, à exceção de alguns poemas e cantos guerreiros.
Na área artística, as formas geométricas se encontram na cerâmica, na bijuteria, na escultura em madeira e na tapeçaria.
Renovação da cultura berbere
A cultura berbere continua viva na Argélia e no Marrocos, menos presente na Líbia e na Tunísia e em grande parte do Saara (tuaregues na Argélia, Burkina Faso, Líbia, Mali, Marrocos e Níger).
Chama-se Primavera berbere as manifestações que explodiram em 1980, nos quais os falantes do berbere na Kabilia (Argélia) clamavam pela oficialização da língua.
Em 1996 uma reforma da Constituição argelina reconheceu a importância berbere para o país ao lado do árabe e do islamismo. Paralelamente, as autoridades lançam um Alto Comissariado para o Amazigh (língua berbere).
No ano 2000, a partir de Paris, entra no ar a Televisão Berbere.
Em 17 de outubro de 2001 o rei Mohammed VI de Marrocos cria o Instituto real da cultura amazigh (IRCAM) para promover a cultura berbere.
Fonte: Wikipédia
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